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terça-feira, janeiro 25, 2011

Capítulo XXIII


Capítulo XXIII

Manhã de segunda-feira. O Sol nascia lançando seus raios mornos sobre a pálida Londres, com seu tráfego lento naquelas primeiras horas da manhã. Uma pequena brisa soprava levando o doce cheiro da aurora e ajudava os raios de Sol a dissiparem a fina bruma que cobria a cidade.

Um pequeno emaranhado de cobertores e edredons encontrava-se sentado em uma das cadeiras da varanda. Os olhos negros fitavam os raios da aurora como se tentasse ver além deles, e para quem olhava parecia realmente que o conseguia.

Os cabelos tão negros quanto os olhos caiam sobre os ombros cobertos pelas cobertas sem ao menos ser penteado e ela mordia a ponta do dedo de maneira inconsciente. Sentia que seu pé estava começando a ficar frio, mas não conseguia sair dali.

Sabia que em poucos minutos Charlotte estaria despertando com um sorriso nos lábios e sua irmã também o estaria, mas agora, ambas, estavam sonhando com seus príncipes encantados. E ela também estaria deitada em sua cama sonhando com o seu príncipe de olhos azuis se não fosse por uma inconveniente sensação de enjôo que embrulhava seu estômago e a fazia sentir-se em uma montanha russa de queda muito vertiginosa.

Havia ensaio durante horas com Darcy, chegara à exaustão, e agora estava a poucas horas da verdadeira prova. Só de imaginar a pequena multidão que se formaria à porta das salas de testes seu estômago dava mais uma volta e embrulhava-se mais ainda.

Apertou-se mais ainda nas cobertas como se fosse uma pequena criança indefesa e olhou para ao lado ao ver a porta da varanda correr suavemente. Jane apareceu também enrolada em seu cobertor e sorriu.

- Eu sabia que estava aqui. – ela falou agachando-se frente à irmã e apoiando as mãos em sua perna.

- Onde mais eu estaria? – Lizzy perguntou ainda sem olhar a irmã.

- Em sua cama, deitada e coberta como deveria estar. – Jane falou sorrindo e empurrando as pernas da irmã para que sobrasse espaço e pudesse sentar ao seu lado.

- Não consegui continuar dormindo. – Lizzy explicou deitando-se no colo da irmã como se fosse uma menina de oito anos. Jane começou a afagar-lhe os cabelos como só uma mãe fazia.

- Sei que é um dia importante para você. – continuou também olhando para o Sol que já nascera e que começava a acordar aos moradores de Londres. – Já tomou o café?

- Não... eu estava aqui distraída. – Lizzy respondeu enrolando-se mais nos cobertores. Jane começou a rir e deu um leve tapa em sua perna.

- Você estava esperando que eu acordasse para fazê-lo para você! – falou rindo e parando de lhe fazer carinho.

- Culpada! – Lizzy confessou rindo e sentando-se. – Eu tenho que fazer uma anotação mental e começar a inventar desculpas mais convincentes.

- Ou então tomar vergonha nessa cara e aprender a fazer seu próprio café! – Jane falou rindo e levantando-se, estendendo a mão para que Lizzy também se levantasse. – Vamos para a cozinha. Aqui está muito frio e lá eu poderei lhe preparar um café descente.

Jane concluiu reabrindo a porta de vidro e entrando. Lizzy fechou a porta atrás dela e levou suas cobertas para o quarto as jogando de qualquer maneira em cima da cama. Voltou para a cozinha e encontrou Jane retirando uns ovos da geladeira.

- Omelete! – ela anunciou ao ver os olhos brilhantes de Lizzy. – Sei que é seu preferido. – concluiu rindo ao receber vários beijos da irmã espalhados por todo o rosto.

- Você é a melhor irmã desse mundo! – Lizzy falou sentando-se na bancada ao lado da tigela onde Jane batia os ovos.

- Que eu saiba, Lizzy, lugar de se sentar e na cadeira... – Charlotte provocou entrando na cozinha e sentando ela mesma ao lado de Lizzy na bancada.

- Bom-dia pra você também, minha cara amiga Charlotte! – Lizzy falou rindo e dando um beijo estalado em sua bochecha.

- É o primeiro dia dessa garota na escola e esqueceram de me avisar? – Char perguntou limpando o beijo com uma falsa careta de nojo.

- Como se fosse. – Jane falou rindo e começando a colocar a mistura na frigideira.

- Verdade... é hoje que você vai dançar o tango com o Sr. Darcy! – lembrou-se Char estreitando os olhos em direção a Lizzy.

- É só uma dança inocente! – Lizzy atalhou como se fosse adiantar alguma coisa.

- Nunca pensei do contrário! – Charlotte falou cínica. – E que próxima dança você ensinará a ele? Salsa? Olha, eu tenho umas amigas no MSN que podem lhe dar dicas ótimas! – completou tirando onda com a cara da amiga. (N/a: Né meninas?? A Lizzy precisa de sugestões... huahauaua)

- Charlotte... – Lizzy chamou com um sorriso meigo.

- Sim? – a outra respondeu virando-se logo após pegar um pêssego na fruteira ao se lado.

- Vai ver se eu to na esquina! – Lizzy completou rindo.

- Com muito prazer! – Charlotte falou pulando da bancada e saindo em direção a porta da frente. Ela parou, olhou para trás e viu que as amiga a olhava com expressões chocadas.

Sorriu de volta para elas, deu um “xauzinho” com a mão e abriu a porta, passando por ela como se saísse toda arrumada para trabalhar, ao invés de estar de camisão, e fechou a porta com um baque.

- Ela realmente foi? – Jane perguntou quase deixando a omelete queimar.

- Eu acho que tinha alguma coisa naquele pêssego. – as duas se encararam, deram de ombros e começaram a rir.

Lizzy ajudou Jane a servir o café para as duas e sentaram-se à mesa. Comeram enquanto conversavam sobre as pinturas de Jane quando Lizzy lembrou-se de que Jane pintava um quadro que não queria lhe mostrar.

- Jane... – chamou com a voz arrastada. – O que você tanto pinta em seu ateliê? – levantou-se e pôs seu prato na pia. – eu quero saber!

- Ficará sabendo em seu devido tempo. – Jane retrucou com um sorriso misterioso e voltou sua atenção para o próprio prato.

- Não é justo! – Lizzy reclamou emburrada.

Jane não conseguiu responder, pois ouviram a porta da sala ser aberta e viraram-se para ver Charlotte voltando com um lindo buquê de Lírios na mão.

- Alem de sair de casa você ainda foi comprar flores? – Jane perguntou com a omelete a meio caminho da boca.

- Claro, o dia está tão brilhante hoje... – Charlotte retrucou irônica e se aproximando da mesa.

- Falei que tinha alguma coisa naquele pêssego... – Lizzy sussurrou para a irmã que concordou com a cabeça.

Charlotte sentou-se na cadeira vazia e estendeu o buquê para a amiga.

- É pra você. – falou diante da cara interrogativa da amiga.

- Pra mim? Mais pra que você está me dando flores? – Lizzy perguntou sem entender absolutamente nada.

- Olha o cartão! – Charlotte ordenou impaciente puxando um cartão do meio das flores.

Lizzy pegou o cartão de dentro das flores cuidadosamente e começou a lê-lo em voz baixa, movendo apenas os lábios sem emitir som algum. Jane fingia não estar interessada, mas olhava para o cartão de rabo de olho.

Charlotte claramente já havia lido todo o conteúdo e nem ao menos mostrava alguma reação alem de um pequeno sorriso insistente.

- Eu. Não. Acredito. – Lizzy falou pausadamente enquanto deixava o cartão em cima da mesa e fitava as flores com uma expressão abobalhada.


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- O que foi, Lizzy? – Jane perguntou sendo vencido pela curiosidade e logo debruçando-se na mesa para pegar o cartão perto das flores. – É um soneto de amor! – falou sorrindo e olhando para a irmã.

- Eu nunca ganhei um soneto de amor... – Lizzy murmurou pegando as flores delicadamente e colocando em um jarro com água.

- Ela tem quantos anos? 15? – Char perguntou divertida.

- É como se fosse. – Jane sussurrou lançando um olhar de esguelha para a irmã.

- Lizzy, que horas é o seu teste? – Char perguntou pegando os pratos e os colocando empilhados na pia.

- Às nove. – ela respondeu ainda com um sorriso bobo. Deixou as flores em cima do balcão e olhou para o relógio na parede oposta. – Eita, são oito horas!

Desencostou-se da pia correndo e começou a correr para o quarto. Jane e Charlotte começaram a rir e continuaram tomando seu café.

Poucos minutos depois, Lizzy passou correndo na cozinha, já com sua calça e blusa de dança e carregando uma enorme bolsa pendurada transversalmente.

- Tchau, gente! – Disse abrindo a porta da cozinha e saindo sem esperar resposta.

Charlotte e Jane se entreolharam e começaram a rir.


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Lizzy chegou na academia oito e meia devido ao trânsito de inicio da manhã e subiu correndo os degraus de mármore até alcançar o andar da dança. Teve que passar por um aglomerado de alunos curiosos que tentavam ver os testes pelas portas de vidro e chegou ao seu armário.

Deixou suas coisas de qualquer maneira dentro do armário e pegou suas sapatilhas. Enfrentou novamente a massa de curiosos e alcançou o vestiário feminino, que mostrava uma movimentação estranha.

Fez uma pequena maquiagem para causar uma sensação sutil na hora de dançar de que ela estava sempre leve e rosada. Saiu para os corredores e encontrou uma sala com uma enorme placa, onde podia-se ler: aquecimento.

Empurrou as portas lentamente e entro na sala. Algumas já se alongavam, ou na barra ao sentadas no chão. Algumas outras meninas alongavam-se no centro, dando algumas piruetas e aparentemente fazendo marcações de passos.

- Lizzy!

Isabel chamou ao terminar uma linda pirueta em quarta posição. Lizzy se aproximou da amiga e a abraçou.

- Chegou que horas? – Lizzy perguntou sentando-se no chão ao lado de Isabel e começando a se alongar.

- Agora a pouco. Já falei com Thomas... ele está aquecendo-se em uma outra sala junto com o resto dos meninos. – Bel explicou sorrindo nervosa e começando a estalar os dedos.

- Como anda a sua coreografia? – Lizzy perguntou puxando a amiga para o chão também.

- Anda bem... e seu ensaio com o Sr Gostoso Darcy? – Bel perguntou sorrindo maliciosamente.

Lizzy, lembrando que Bel ainda não soubera sobre seu último ensaio, sorriu maliciosamente e mudou a posição de pernas para alongar.

- Sabe... digamos que foi bem...produtivo. – falou misteriosa.

- Produtivo? Como? – Bel perguntou estreitando os olhos.

- Ora, conseguimos terminar a seqüência... – Lizzy falou com sua maior cara inocente.

- Claro... e essa seqüência terminou aonde? Na sua casa ou na dele? – Bel perguntou arqueando a sobrancelha e já esperando um ataque vindo da amiga.

- Na casa dele... – Lizzy respondeu marotamente.

Bel encarou a amiga por alguns instantes, como se acabasse de levar um tapa na cara. Esperava que a amiga começasse a se alterar e começasse a falar sobre seus princípios de não se envolver com pessoas que estejam trabalhando com ela e por ai seguiria. Mas não esperava... isso!

- Você .. han… se acertaram? – Bel perguntou ainda com uma expressão de choque nada disfarçada.

- Defina “se acertaram”. – Lizzy pediu fazendo um “cambrê”.

- Ele...ele... te tacou na cama e chamou de lençol? – Bel perguntou ainda abobada.

- Vamos dizer que foi um pouco ao contrário... – Lizzy falou sorrindo maliciosamente. Adorava implicar com a amiga.

Isabel ficou a encarando por alguns minutos e começou a rir escandalosamente, deixando Lizzy extremamente vermelha.

Caroline, reparando na aparência risonha de Isabel e Lizzy no canto oposto da sala, resolveu descobrir o que estava acontecendo. Algo que as tivesse deixado ao animadas com certeza não era algo que ela seguramente poderia chamar de proveitoso.

Colocou a maior pose de poder que pôde a caminhou determinada até as duas que riam.

- Estão tirando a minha concentração. Eu preciso de um silêncio mínimo para poder treinar. – disse cruzando os braços e arqueando as sobrancelhas.

- Realmente, Caroline, querida, você parecia muita concentrada enquanto conversava com suas servas, aliais, amigas, e olhava para cá. – Bel falou sorrindo debochadamente. – Agora, dê-nos licença, precisamos terminar nosso alongamento.

Bel se virou para Lizzy e revirou os olhos. Lizzy segurava o riso e ficou satisfeita ao ver Caroline voltar para o seu canto com uma expressão não muito amigável.

- Sabe o que descobri, minha cara amiga alienada Lizzy? – Bel perguntou olhando para Caroline de rabo de olho.

- Não, minha cara Sherlouca Holmes... o quê? – Lizzy perguntou entrando no espírito da brincadeira.

- Descobri que essa cobra coral falsa é louquinha pelo seu homem. – Bel respondeu rindo.

- Como assim? – Lizzy perguntou com uma vontade imensa de esganar aquela mocréia ruiva.

- Ela é irmã de Charles, o melhor amigo de Darcy. E, nas férias, quando ele passava na casa dos Bingley, ela ficava se oferecendo... – Bel comentou levantando-se a ajudando a amiga.

- E como você sabe disso? – Lizzy perguntou com um sobrancelha arqueada.

- Amor, eu não sei se você reparou, mas todas as meninas dessa academia, sem exceções, baba pelo seu homem. – Bel comentou divertida. – e você anda tão ocupada com a dança que nem repara...

- Ele não é meu homem...- Lizzy murmurou olhando a volta. – e eu não havia reparado mesmo... – admitiu encarando a amiga.

- E isso me lembra que temos que montar a sua escolta. – Bel pontuou andando até o banco e pegando sua garrafinha de água.

- Minha escolta? – Lizzy perguntou sem entender mais nada.

- É claro. Ou você acha que todas essas meninas com os hormônios em ebulição não vão querer te matar quando descobrir que o gostoso delas é na verdade o seu gostoso? – Bel perguntou sorrindo.

- Isabel... você está estranha hoje. Vamos nos alongar? – Lizzy perguntou voltando para o centro e começando a dar algumas piruetas.

O que Isabel dissera fazia sentido. Por mais que odiasse admitir, quando a academia inteira descobrisse que estava namorando o homem mais lindo que aparecera por ali em anos não teria mais paz.

Enquanto dançava para se aquecer, ficou remoendo o assunto e chegou a uma conclusão que lhe pareceu satisfatória. Iria esperar que toda agitação dos testes e da apresentação passasse para finalmente assumir o namoro.

Se Darcy realmente fosse tão assediado quanto parecia, teria realmente que ter muita paciência. Sempre fora muito paciente, mas ver seu namorado levando cantadas não era a situação mais agradável do mundo.

********************************
- Srta Elizabeth Bennet.

Chamou um dos juizes de uma enorme bancada que contava com muitos professores de dança. Pelo que Lizzy pôde reparar, todos da área de dança estava convocados.

Um frio incômodo começou a subir por sua espinha e suas mãos tremiam levemente. Respirou fundo, tentando conter a ansiedade que embrulhava seu estômago e postou-se no centro da sala.

A sala era relativamente grande, feita com paredes exclusivamente de vidros, que permitia aos que passavam no corredor assistisse ao testes. Algumas pessoas comprimiam o rosto contra o vidro, lutando por um espaço para assistir aos testes.

Começando a ignorar todas as pessoas que a olhavam e os juizes que a encarava com expressões vazias de sentimentos, Lizzy imaginou-se em um lugar tranqüilo. Cheio de verde, onde pudesse sentir a grama macia sob seus pés, onde pudesse sentir a brisa acariciar-lhe o rosto e mantê-la embalada em um clima de harmonia.

http://www.youtube.com/watch?v=reAIwuc0Qeg&feature=related
(Game of love- Michelle Blanch)