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quinta-feira, maio 05, 2011

no caminho da dança - ultimo capítulo


Capítulo XXV

s semanas pareceram se arrastar desde a apresentação do tango, que havia sido o assunto das semanas seguintes. Todos pareciam impressionados pela magnífica apresentação e comentavam.

Obviamente alguns desses comentários foram maldosos, espalhando o boato de que Lizzy teria seduzido Darcy para conseguir o papel na apresentação. Já outros diziam que eles mantinham o caso secreto há muito tempo.

E ainda havia o grupo que não ligava para isso, e que simplesmente haviam achado o tango sublime.

Duas semanas depois dos testes, o resultado seria divulgado em um mural posto no corredor do andar da dança. Lizzy acordara especialmente cedo para chegar à academia e poder ver o resultado em relativa paz.

Os comentários sobre a dança não a incomodaram tanto quanto ela julgava que iria incomodar. Ela simplesmente os ignorava, tendo a consciência limpa. Ela sabia que havia ensaiado bastante e que não seduzira Darcy, e para ela isso bastava.

Caroline era a mais despeitada entre as meninas e não passava uma aula sequer sem lhe lançar um olhar torto e a olhar de cima a baixo.

Os almoços com Darcy haviam se tornado mais freqüentes, embora ainda mantivessem o relacionamento em segredo.

Jane a Charles começaram a namorar e formavam o casal mais fofo de toda a academia, sendo apelidados gentilmente de “Casal ternurinha”.

***********************

Lizzy estava no corredor dos vestiários quando ouviu um murmurinho mais alto que o normal vindo dos corredores. Ela guardou suas coisas o mais rápido que pôde e saiu para o corredor.

Márcia , a professora de ballet, trazia em suas mãos uma longa lista com os nomes dos aprovados para o espetáculo. Sorria para todas de forma misteriosa e pediu gentilmente que se afastassem para prender a lista sem problemas.

Lizzy optou por esperar um pouco até poder procurar por seu nome e com isso fugir da multidão. Algumas delas logo avançaram para a lista quando Márcia se afastou e as mais variadas emoções expressavam.

Uma das meninas, que Lizzy se lembrava chamar Nina, chorava copiosamente, com uma expressão triste, enquanto uma outra a consolava. Várias outras também choravam, algumas de alegria e outras de tristeza e pouco a pouco foram esvaziando o lugar.

Quando o corredor já estava bem mais vazio, Lizzy se aproximou da longa lista e percorreu os nomes com a ponta do dedo indicador. Viu que o nome de Isabel reluzia em uma caneta vermelha e não pôde evitar sorrir. A amiga fora escalada para fazer o acompanhamento das principais.

Continuou olhando a lista até que achou seu nome. Por um minuto, pensou que seu coração havia falhado uma batida e sentiu todo o ar a sua volta sumir como se empurrassem algo contra seu peito.

Com o dedo trêmulo, seguiu a linha pontilhada ao lado de seu nome até a achar a sua função escrita com uma caligrafia irregular que reconheceu como sendo a de Lyra. Ela seria a principal de todas as coreografias...

****************************

- Eu passei! – Lizzy chegou falando contente quando entrou na pequena saleta de um restaurante japonês onde havia marcado de comer com Jane, Charles e Darcy depois das aulas da manhã.

- Meus parabéns! – cumprimentou Jane com um sorriso. – Mas eu já sabia que passaria.

- Claro, a melhor bailarina de todas. – Charles falou abraçando Jane.

- É muito delicado de sua parte, Charles, mas eu não sou a melhor. Ainda tenho muito o que aprender... – Lizzy decretou sentando-se ao lado de Darcy.

- Então eu não sou um bailarino tão mal assim? – Darcy brincou beijando Lizzy delicadamente nos lábios.

- Não, seu bobo. Você dança muito bem. – Lizzy elogiou sorrindo e deixando suas coisas de lado.

Passaram o resto do horário do almoço conversando enquanto almoçavam.
Haviam pedidos um daqueles barquinhos de comida japonesa e já estavam mais que satisfeitos.

- Preciso voltar para a academia. – Lizzy falou levantando-se.

-Eu também vou. Charles e eu temos aula agora. – Jane explicou também se pondo de pé.

- Vou acompanhá-los e aproveito fico mais um pouco com a minha bailarina. – Darcy disse manhoso abraçando Lizzy.

- Não podemos andar assim na academia! – Lizzy lembrou fazendo um biquinho.

- Porque você não quer. – ele retrucou emburrado.

- Meu amor, eu já falei...- Lizzy começou virando-se para ele.

- Vamos esperar que toda a poeira baixe. – ele completou revirando os olhos. – Eu vou esperar, desde que você fique ao meu lado, sempre.

- Que bom que você entende...- Lizzy murmurou o beijando.

- Não queremos interromper o casal...- Isabel falou aparecendo à porta da saleta reservada deles. – mas temos que ir.

- Ah não! Como nos descobriu aqui? – Lizzy perguntou com falsa cara de chateada.

- Eu sei que vocês tentam se livrar de mim, mas tenho meus informantes. – Bel respondeu dando uma piscadela.

- Thomas é um linguarudo. – Jane brincou acenando para Thomas que estava logo atrás de Isabel. – Ele me viu entrando no restaurante. – completou ao ver a cara de dessentidos dos outros.

- Vocês vão com a gente? – Darcy perguntou já saindo do restaurante com o grupo.

- Claro, esqueceu que agora a Lizzy precisa de segurança? – Bel perguntou divertida. – e você também deveria providenciar seguranças para o Darcy, Lizzy.

- Por quê? – Lizzy perguntou sem entender realmente.

- Porque as meninas da academia, todas, sem exceção, dão em cima do Darcy. – Bel explicou sorrindo.

- Desde que ele também não dê em cima delas...- Lizzy completou emburrada.

- Eu só tenho olhos para você. – Darcy assegurou roubando um beijo.

Chegaram à academia caminhando tranqüilamente e subiram as escadas de mármore rapidamente. Quando chegaram ao andar da dança o falatório cessou repentinamente e todas as cabeças viraram-se para onde o grupo estava parado.

Um grupo de meninas no outro lado do corredor levantou-se de seus bancos e caminharam até eles com poses extremamente arrogantes, sendo guiados por...

- Caroline! – Charles chiou ao ver a irmã literalmente jogando-se em cima de Darcy.

Caroline pareceu não ter ouvido o irmão, e deu um dos seus melhores sorrisos para Darcy. Lizzy arqueou a sobrancelha, mas nada fez. Teoricamente Darcy não tinha namorada.

- Caroline, acho melhor você me soltar. – Darcy falou soltando-se de Caroline e olhando de relance para Lizzy que assistia a tudo com uma expressão não muito boa.

- Você não é comprometido. Nada seu tem dona...- Caroline disse passando a mão de maneira insinuante pelo peito de Darcy.

Jane, Charles, Isabel e Thomas olhavam para Lizzy como se esperassem que ela pulasse em cima do pescoço de Caroline a qualquer minuto e a esgana-se.

Havia sido assim nas ultimas duas semanas, mas nenhuma das meninas tinha tido tanta coragem a ponta de literalmente agarrar Darcy.

- Caroline, contenha-se! – Darcy pediu olhando em volta nervoso.

- Por que eu deveria? – Caroline perguntou ameaçadoramente perto.

- Porque ele tem dona! – Lizzy falou ao ver sua paciência descer pelo ralo. Já havia suportado cantadas pra cima dele de mais, e se não desse logo um basta naquilo com certeza iria ficar pior.

- Tem é? – Caroline perguntou cinicamente e olhando bem para Darcy, como se procurasse alguma coisa. – Não vejo seu nome nele.

- Se você precisa por nome para se certificar de que um homem é seu, eu não tenho nada haver com isso. – Lizzy abraçou Darcy afastando Caroline.

- Mas ele também não é seu. – Caroline falou sem querer perder uma discussão justamente com Lizzy. – Eu faço com ele o que eu quiser.

- Ah faz? – Lizzy perguntou arqueando a sobrancelha e sorrindo de maneira que pareceu a todos muito ameaçadora. – Você pode deitar a cabeça no peito dele, assim, como eu deito? – perguntou deitando a cabeça no peito de Darcy, que olhava tudo sem reação, como todos ali.

- Não, não pode. – Isabel falou baixinho atrás da amiga, sustentando um sorriso satisfeito.

- Você pode...beijar o rosto dele assim? – Lizzy continuou beijando todo o rosto de Darcy.

Caroline não disse nada, apenas olhou a cena sem ter o que falar e com pose arrogante.

- Você pode beijar os lábios dele assim? – Lizzy perguntou beijando Darcy nos lábios. Todas as meninas sem exceção pareceram querer arrancá-la dali.

Caroline finalmente fez que não com a cabeça, o orgulho ferido, mas sem perder a pose. Jane olhava tudo boquiaberta e com um ligeiro sorriso surgindo no canto da boca. Charles parecia divido, entre vergonha pela atitude da irmã e satisfação ao ver Lizzy reagindo. Isabel estava claramente se divertindo com tudo aquilo.

- Não, não pode. – Lizzy falou sorrindo vitoriosa e deixando Darcy com um discreto sorriso. Essa era a sua Lizzy. – então...acho que isso o qualifica como meu, não acha, já que eu posso e você não.- completou irônica. – E vocês podem olhar para ele à vontade. – completou olhando para todas as meninas com um sorriso. – Olhar não tira pedaço, e quem mais tarde vai realmente poder tirar pedaço sou. Então não me importo.

Depois dessa declaração que caiu como uma bomba entre as meninas, o movimento do corredor voltou ao normal, cada uma se dirigindo para a sua sala, mas sem deixar de comentar sobre a pequena cena que presenciaram.

- Parece que estamos no colegial! – Lizzy reclamou soltando Darcy e cruzando os braços irritada.

- Colegial ou não...você acabou com elas. – Bel falou finalmente rindo. Você tinha que ter visto o espanto geral quando você beijou o Darcy.

Lizzy não pôde deixar de rir. Ta ai uma cena que com certeza contaria para os seus filhos. Já que, a partir desse dia, todas na academia ficaram sabendo que o bonitão William Darcy tinha dona, e que ela se chamava Elizabeth Bennet.

FIM

terça-feira, fevereiro 22, 2011

Capítulo XXIV


Capítulo XXIV
Combinara de o encontrar na sala no andar de baixo, para evitarem alvoroços e ensaiarem em paz. Lizzy já sentia-se nervosa por si só, e não precisava de mais olhares curioso para cima de si.

Correu para o vestiário e trocou de roupa, ponde um vestido vinho, especialmente feito por Charlotte para o tango. O vestido era justo até o quadril, demarcando delicada e sensualmente as curvas do corpo de Lizzy.
Nas costas, um corte em forma de gota.

Na frente, a parte mais alta que alcançava o pescoço em um tipo de frente única, era toda bordada com pedrinhas miúdas e discretas, mas que davam ao vestido todo um discreto brilha especial.

A saia do vestido era folgada, cortada em gomos largos com cortes maiores estrategicamente feitos nas laterais, aonde precisaria de mais mobilidade nas pernas.

Lizzy desceu um lance da escadaria de mármore e chegou ao andar que estava praticamente vazio. Parecia que toda a academia havia evacuado para a área de dança.

Satisfeita por essa momentânea paz, Lizzy entrou em uma das salas e deixou suas coisas jogadas ao lado da porta.

Enquanto Darcy ainda não chegava, encostou-se na barra e prendeu o cabelo em um coque elegante. Colocava os últimos grampos com flores de cristais na ponta quando ouviu a porta se abrindo.

Pelo espelho, ela viu que Darcy havia entrado na sala e encostava a porta delicadamente atrás de si. Vinha vestido com uma blusa social branca, totalmente abotoada, uma calça social preta e os sapatos de dança que Lizzy havia indicado.

Ela sorriu e encostou-se na barra, analisando-o de cima a baixo enquanto esperava que ele se aproximasse.

- As flores que me mandou hoje de manhã são lindas. – ela falou corando levemente e olhando para o chão.

Darcy se aproximou mais de Lizzy e levantou seu queixo com as pontas de seus dedos, acariciando-lhe levemente a pele.

- Você é linda. – Darcy respondeu beijando-lhe delicadamente os lábios.

Lizzy fechou os olhos e deixou-se sentir o toque dos lábios macios de Darcy de encontro ao seu, antes de colocar suas mãos delicadamente no peito de Darcy e empurrá-lo delicadamente.

-Vamos esperar até que a exaltação dos testes tenha passado. – ela pediu com um aperto no coração.

Queria poder agarrá-lo já, naquele momento, sem se importar com o que pensariam ou o que falariam dela. Mas não podia, o mundo era cruel e as pessoas incapazes de enxergar o amor, ainda mais nas condições em que os amantes estejam seja de vantagens para uma das partes.

- Por você eu esperaria milênios, se necessário. – Darcy respondeu roubando-lhe um último beijo. – Tenho um presente para você.

Ele falou afastando-se lentamente e virando de costas para Lizzy, que mordeu o lábio inferior fazendo uma espécie de biquinho e aproximou-se dele.

- Você vai me deixar curiosa assim? – ela perguntou manhosa pondo-se em frente a ele.

- Não. Foi um sacrifício passar por toda aquele gente lá em cima sem amassá-la. – ele falou rindo.

Lizzy pôs as mãos na cintura de uma maneira ameaçadora e arqueou uma das sobrancelhas.

- Então era você que as meninas assanhadas ali em cima estavam tentando passar a mão... – Lizzy concluiu com uma expressão nada amigável.

- O que eu posso fazer? Elas não sabem que eu tenho uma namorada. – ele respondeu implicante.

- E nem vão descobrir tão cedo. – Lizzy resmungou já aborrecida. Nunca pensara que fosse tão ciumenta, mas ela era a namorada de Darcy agora, e não ia permitir que ficassem olhando para ele como se fosse um pedaço de carne.

Não enquanto ele fosse o seu Darcy, e que ficasse bem claro.

-Não fique com esse bico tentador...- ele falou mexendo no bolso de sua
calça e retirando uma flor, uma rosa branca de pétalas delicadas que exalava um doce aroma.

Darcy aproximou-se de Lizzy e retirou de suas mãos um dos grampos que ela ainda segurava esquecido entre os dedos. Arrumou a flor de uma maneira bonita no coque de Lizzy e a fixou com o pequeno grampo.

- Minha irmã a colheu hoje de manhã, junto com as flores do nosso jardim. Eu a vi sobre a mesa e me lembrei de você. – ele falou sorrindo.

Lizzy sentiu que ia desmoronar, então obrigou-se a respirar fundo e desviar suas atenções da boca sedutora que estava a poucos milímetros da sua.

Ligou a música rapidamente, dando um banho de água fria em sua vontade de ficar ali encarando aquele homem na sua frente. Aproximou-se dele por trás e espalmou as mãos em seu peito, apoiando o queixo em seu ombro.

Sentiu o perfume de Darcy e controlou-se ao ouvir os acordes da música. Ensaiaram encarando um ao outro de uma maneira profunda, realizando giros, ganchos, piruetas sem cortar o contato visual por que alguns segundos.

Parecia uma necessidade física, de que os olhares sempre se encontrassem, de que soubessem de que sempre estariam ali quando precisassem um do outro.

A coreografia terminou e parecia impregnada no sangue de cada um. Cada passo fora perfeito, sem a menor hesitação, como se os corpos dançassem juntos desde que nasceram, e que se procuravam mutuamente.

- Bravo! – Isabel e Thomas gritaram parados à porta e batendo palmas.

Lizzy e Darcy separaram-se um pouco envergonhados e Lizzy sorriu para a amiga que a olhava com um olhar malicioso.

- Bem, já que a segurança chegou, acho que vocês podem subir para fazer os testes de vocês. – Isabel falou abrindo a porta. Lizzy arregalou os olhos.

- Já está na hora? – perguntou desligando a música e pegando as coisas de cima do banco.

- Faltam cinco minutos. Mas acho melhor vocês irem subindo. – Thomas falou consultando o pequeno relógio de parede da sala.

- É, tem razão. – Lizzy concordou. – Vamos, Darcy?

-Vamos. – ele assentiu e saíram da sala com as mãos discretamente dadas, coisa que não passou despercebida ao olhar atento de Isabel.

Chegaram aos andar da dança e encontraram o corredor estranhamente vazio. Havia apenas alguns alunos parados a frente da sala com paredes de vidro e nada mais.

- Está na hora do teste de Caroline, na sala do outro lado do corredor. – Bel respondeu ao ver a visível cara de surpresa da amiga.

- Ela está com esse ibope todo? – Lizzy perguntou com uma careta.

- Suspeito que não, querem mais ver é o mico que ela vai pagar. – Bel sussurrou de volta.

- Lizzy, ainda bem que cheguei a tempo! – Jane falou subindo as escadas e encontrando o grupo no meio do corredor. Ela estava toda suja de tinta e com algumas manchinhas azuis pelo rosto. Charles a seguia de perto carregando seu estojo de tintas.

- O que aconteceu com você? – Lizzy perguntou passando o dedo pelo rosto da irmã e limpando o excesso de tinta. – Ah, olá, Charles!

- Alunos novos. – ela respondeu sorrindo simplesmente.

- Boa sorte, Lizzy! – ele desejou com uma aceno e apertou a mão de Darcy. – Boa sorte, cara. Eu nunca imaginei que o veria dançar com tanta desenvoltura...- Charles alfinetou.

- E nem verá! – Darcy respondeu ficando sisudo.

– Que horas é o seu teste em dupla? – Jane perguntou tentando desviar a implicância dos dois homens ao seu lado e consultando o relógio de pulso.

- Elizabeth Bennet! – ouviram a professora Maila chamar ao final do corredor.

- Isso responde a sua pergunta? – Darcy retrucou divertido. – Vamos?

Lizzy fez que sim e deixou-se ser guiada por Darcy. Entraram na sala que estava vazia.

- Daqui a pouco os outros juízes estão voltando. A srta Bingley dei um ataque porque havia muita gente olhando e transferimos seu teste para a outra sala. – Maila explicou revirando os olhos. – Onde está o cd com a música?

Lizzy entregou o cd para a professora que o colocou no som.

- Podem ensaiar, se quiserem. Pelo menos até chegarem. – anunciou sentando-se em sua mesa e pegando alguns documentos.

Nem dera tempo dos primeiro acordes soarem a os outros professores chegaram trazendo com eles um bando de curiosos que se postaram em volta da sala, olhando através do vidro.

- Não querem mudar de sala também? – Antony perguntou ríspido olhando para as pessoas que se aglomeravam.

Lizzy pensou em dizer que sim, mas acabou por conformar-se com a platéia e fez que não com a cabeça. Darcy permanecia de costas para a platéia que se formava, Lizzy não saberia dizer se era de nervoso ou precaução para o já esperado falatório.

- Ótimo. – Márcia falou com um sorriso e sentou-se em sua mesa. – Prontos? – perguntou fitando a dupla.

Lizzy aproximou-se de Darcy e o abraçou.

- Esqueça quem está lá fora, imagine que somos só nós dois dançando nos ensaios. Imagine a sala vazia e confie em si! – Lizzy sussurrou ao pé do ouvido de Darcy e abraçou-o por trás, colocando-se na posição em que começariam.

http://www.youtube.com/watch?v=6nnd2Ixuzco&feature=related

Os primeiros acordes já de violinos típicos do tango soaram pela sala. Uma jogada de perna de Lizzy e os rostos colados em uma provocação mútua, uma sedução silenciosa.

Darcy espalmou as mãos nas costas de Lizzy e apertou contra a si, a guiando em passos confiantes. A conduzia com maestria, deixando-a partir para depois puxá-la de encontro ao seu corpo, colando o seu ao dela, como se a simples idéia de vê-la longe o deixasse gelado com falta do calor daquele corpo junto ao seu.

Mais uma perna alta, mais um giro. Aquela troca de olhares intensas como se o mundo já não importasse mais e só existisse o agora, aquela troca de calor entre os dois, os olhares verdadeiramente apaixonados.

Quem estava no corredor assistia a tudo estaticamente. Muitos ainda tentavam convencer-se de que aquele dançando tango não era o Sr Darcy, o poderoso e durão dono da Academia, mas sim um clone, uma pessoa idêntica.

Algumas mulheres olhavam em transe, com os olhos fixos no movimento másculo de Darcy. Podiam sentir como se fossem elas as tocadas. Podiam sentir o desejo que aquela dançava estava transmitindo. Imaginavam sentir até o perfume que aquele cabelo emanava.

Outras tantas roíam-se de inveja, desejando com toda a força do mundo que elas estivessem ali e sentiam suas línguas coçarem e uma vontade de falar que a simples bailarina seduzira o poderoso dono subindo a garganta.

- Vamos embora daqui. – Caroline falou irritada e puxando as amigas para longe da exibição.

Lizzy pôde vislumbrar o momento exato em que a face de Caroline contorcia-se em fúria e ia embora, logo depois sendo puxada para uma cadeirinha ((N/a:passo onde a bailarina senta na perna do condutor) .

Um passo complicado, entrelaçado pernas em meio a um giro. Lizzy sentia seus músculos desmancharem ao menor toque de Darcy, e o olhava de maneira apaixonada.

Darcy, por sua vez, sentia aquele perfume inebriante enlouquecê-lo. Uma simples fragrância feminina nunca mexera com ele assim em sua vida.

Estavam muito próximos. Já podiam sentir os lábios se tocando,mas não era essa a intenção. Lizzy desceu com a perna de trás esticada até formar um ângulo bonito com seu corpo próximo ao de Darcy.

Uma abertura de pernas, uma levantada magnífica, um gancho. A música ia acelerando-se em um tom agoniante. Um salto, mais uma volta e finalmente... o mais doce fim. Os rostos separados, os olhares sem se cruzarem, mas a certeza de que haviam dançado o melhor tango que aquela academia já vira em anos.

terça-feira, janeiro 25, 2011

Capítulo XXIII


Capítulo XXIII

Manhã de segunda-feira. O Sol nascia lançando seus raios mornos sobre a pálida Londres, com seu tráfego lento naquelas primeiras horas da manhã. Uma pequena brisa soprava levando o doce cheiro da aurora e ajudava os raios de Sol a dissiparem a fina bruma que cobria a cidade.

Um pequeno emaranhado de cobertores e edredons encontrava-se sentado em uma das cadeiras da varanda. Os olhos negros fitavam os raios da aurora como se tentasse ver além deles, e para quem olhava parecia realmente que o conseguia.

Os cabelos tão negros quanto os olhos caiam sobre os ombros cobertos pelas cobertas sem ao menos ser penteado e ela mordia a ponta do dedo de maneira inconsciente. Sentia que seu pé estava começando a ficar frio, mas não conseguia sair dali.

Sabia que em poucos minutos Charlotte estaria despertando com um sorriso nos lábios e sua irmã também o estaria, mas agora, ambas, estavam sonhando com seus príncipes encantados. E ela também estaria deitada em sua cama sonhando com o seu príncipe de olhos azuis se não fosse por uma inconveniente sensação de enjôo que embrulhava seu estômago e a fazia sentir-se em uma montanha russa de queda muito vertiginosa.

Havia ensaio durante horas com Darcy, chegara à exaustão, e agora estava a poucas horas da verdadeira prova. Só de imaginar a pequena multidão que se formaria à porta das salas de testes seu estômago dava mais uma volta e embrulhava-se mais ainda.

Apertou-se mais ainda nas cobertas como se fosse uma pequena criança indefesa e olhou para ao lado ao ver a porta da varanda correr suavemente. Jane apareceu também enrolada em seu cobertor e sorriu.

- Eu sabia que estava aqui. – ela falou agachando-se frente à irmã e apoiando as mãos em sua perna.

- Onde mais eu estaria? – Lizzy perguntou ainda sem olhar a irmã.

- Em sua cama, deitada e coberta como deveria estar. – Jane falou sorrindo e empurrando as pernas da irmã para que sobrasse espaço e pudesse sentar ao seu lado.

- Não consegui continuar dormindo. – Lizzy explicou deitando-se no colo da irmã como se fosse uma menina de oito anos. Jane começou a afagar-lhe os cabelos como só uma mãe fazia.

- Sei que é um dia importante para você. – continuou também olhando para o Sol que já nascera e que começava a acordar aos moradores de Londres. – Já tomou o café?

- Não... eu estava aqui distraída. – Lizzy respondeu enrolando-se mais nos cobertores. Jane começou a rir e deu um leve tapa em sua perna.

- Você estava esperando que eu acordasse para fazê-lo para você! – falou rindo e parando de lhe fazer carinho.

- Culpada! – Lizzy confessou rindo e sentando-se. – Eu tenho que fazer uma anotação mental e começar a inventar desculpas mais convincentes.

- Ou então tomar vergonha nessa cara e aprender a fazer seu próprio café! – Jane falou rindo e levantando-se, estendendo a mão para que Lizzy também se levantasse. – Vamos para a cozinha. Aqui está muito frio e lá eu poderei lhe preparar um café descente.

Jane concluiu reabrindo a porta de vidro e entrando. Lizzy fechou a porta atrás dela e levou suas cobertas para o quarto as jogando de qualquer maneira em cima da cama. Voltou para a cozinha e encontrou Jane retirando uns ovos da geladeira.

- Omelete! – ela anunciou ao ver os olhos brilhantes de Lizzy. – Sei que é seu preferido. – concluiu rindo ao receber vários beijos da irmã espalhados por todo o rosto.

- Você é a melhor irmã desse mundo! – Lizzy falou sentando-se na bancada ao lado da tigela onde Jane batia os ovos.

- Que eu saiba, Lizzy, lugar de se sentar e na cadeira... – Charlotte provocou entrando na cozinha e sentando ela mesma ao lado de Lizzy na bancada.

- Bom-dia pra você também, minha cara amiga Charlotte! – Lizzy falou rindo e dando um beijo estalado em sua bochecha.

- É o primeiro dia dessa garota na escola e esqueceram de me avisar? – Char perguntou limpando o beijo com uma falsa careta de nojo.

- Como se fosse. – Jane falou rindo e começando a colocar a mistura na frigideira.

- Verdade... é hoje que você vai dançar o tango com o Sr. Darcy! – lembrou-se Char estreitando os olhos em direção a Lizzy.

- É só uma dança inocente! – Lizzy atalhou como se fosse adiantar alguma coisa.

- Nunca pensei do contrário! – Charlotte falou cínica. – E que próxima dança você ensinará a ele? Salsa? Olha, eu tenho umas amigas no MSN que podem lhe dar dicas ótimas! – completou tirando onda com a cara da amiga. (N/a: Né meninas?? A Lizzy precisa de sugestões... huahauaua)

- Charlotte... – Lizzy chamou com um sorriso meigo.

- Sim? – a outra respondeu virando-se logo após pegar um pêssego na fruteira ao se lado.

- Vai ver se eu to na esquina! – Lizzy completou rindo.

- Com muito prazer! – Charlotte falou pulando da bancada e saindo em direção a porta da frente. Ela parou, olhou para trás e viu que as amiga a olhava com expressões chocadas.

Sorriu de volta para elas, deu um “xauzinho” com a mão e abriu a porta, passando por ela como se saísse toda arrumada para trabalhar, ao invés de estar de camisão, e fechou a porta com um baque.

- Ela realmente foi? – Jane perguntou quase deixando a omelete queimar.

- Eu acho que tinha alguma coisa naquele pêssego. – as duas se encararam, deram de ombros e começaram a rir.

Lizzy ajudou Jane a servir o café para as duas e sentaram-se à mesa. Comeram enquanto conversavam sobre as pinturas de Jane quando Lizzy lembrou-se de que Jane pintava um quadro que não queria lhe mostrar.

- Jane... – chamou com a voz arrastada. – O que você tanto pinta em seu ateliê? – levantou-se e pôs seu prato na pia. – eu quero saber!

- Ficará sabendo em seu devido tempo. – Jane retrucou com um sorriso misterioso e voltou sua atenção para o próprio prato.

- Não é justo! – Lizzy reclamou emburrada.

Jane não conseguiu responder, pois ouviram a porta da sala ser aberta e viraram-se para ver Charlotte voltando com um lindo buquê de Lírios na mão.

- Alem de sair de casa você ainda foi comprar flores? – Jane perguntou com a omelete a meio caminho da boca.

- Claro, o dia está tão brilhante hoje... – Charlotte retrucou irônica e se aproximando da mesa.

- Falei que tinha alguma coisa naquele pêssego... – Lizzy sussurrou para a irmã que concordou com a cabeça.

Charlotte sentou-se na cadeira vazia e estendeu o buquê para a amiga.

- É pra você. – falou diante da cara interrogativa da amiga.

- Pra mim? Mais pra que você está me dando flores? – Lizzy perguntou sem entender absolutamente nada.

- Olha o cartão! – Charlotte ordenou impaciente puxando um cartão do meio das flores.

Lizzy pegou o cartão de dentro das flores cuidadosamente e começou a lê-lo em voz baixa, movendo apenas os lábios sem emitir som algum. Jane fingia não estar interessada, mas olhava para o cartão de rabo de olho.

Charlotte claramente já havia lido todo o conteúdo e nem ao menos mostrava alguma reação alem de um pequeno sorriso insistente.

- Eu. Não. Acredito. – Lizzy falou pausadamente enquanto deixava o cartão em cima da mesa e fitava as flores com uma expressão abobalhada.


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- O que foi, Lizzy? – Jane perguntou sendo vencido pela curiosidade e logo debruçando-se na mesa para pegar o cartão perto das flores. – É um soneto de amor! – falou sorrindo e olhando para a irmã.

- Eu nunca ganhei um soneto de amor... – Lizzy murmurou pegando as flores delicadamente e colocando em um jarro com água.

- Ela tem quantos anos? 15? – Char perguntou divertida.

- É como se fosse. – Jane sussurrou lançando um olhar de esguelha para a irmã.

- Lizzy, que horas é o seu teste? – Char perguntou pegando os pratos e os colocando empilhados na pia.

- Às nove. – ela respondeu ainda com um sorriso bobo. Deixou as flores em cima do balcão e olhou para o relógio na parede oposta. – Eita, são oito horas!

Desencostou-se da pia correndo e começou a correr para o quarto. Jane e Charlotte começaram a rir e continuaram tomando seu café.

Poucos minutos depois, Lizzy passou correndo na cozinha, já com sua calça e blusa de dança e carregando uma enorme bolsa pendurada transversalmente.

- Tchau, gente! – Disse abrindo a porta da cozinha e saindo sem esperar resposta.

Charlotte e Jane se entreolharam e começaram a rir.


**********************************
Lizzy chegou na academia oito e meia devido ao trânsito de inicio da manhã e subiu correndo os degraus de mármore até alcançar o andar da dança. Teve que passar por um aglomerado de alunos curiosos que tentavam ver os testes pelas portas de vidro e chegou ao seu armário.

Deixou suas coisas de qualquer maneira dentro do armário e pegou suas sapatilhas. Enfrentou novamente a massa de curiosos e alcançou o vestiário feminino, que mostrava uma movimentação estranha.

Fez uma pequena maquiagem para causar uma sensação sutil na hora de dançar de que ela estava sempre leve e rosada. Saiu para os corredores e encontrou uma sala com uma enorme placa, onde podia-se ler: aquecimento.

Empurrou as portas lentamente e entro na sala. Algumas já se alongavam, ou na barra ao sentadas no chão. Algumas outras meninas alongavam-se no centro, dando algumas piruetas e aparentemente fazendo marcações de passos.

- Lizzy!

Isabel chamou ao terminar uma linda pirueta em quarta posição. Lizzy se aproximou da amiga e a abraçou.

- Chegou que horas? – Lizzy perguntou sentando-se no chão ao lado de Isabel e começando a se alongar.

- Agora a pouco. Já falei com Thomas... ele está aquecendo-se em uma outra sala junto com o resto dos meninos. – Bel explicou sorrindo nervosa e começando a estalar os dedos.

- Como anda a sua coreografia? – Lizzy perguntou puxando a amiga para o chão também.

- Anda bem... e seu ensaio com o Sr Gostoso Darcy? – Bel perguntou sorrindo maliciosamente.

Lizzy, lembrando que Bel ainda não soubera sobre seu último ensaio, sorriu maliciosamente e mudou a posição de pernas para alongar.

- Sabe... digamos que foi bem...produtivo. – falou misteriosa.

- Produtivo? Como? – Bel perguntou estreitando os olhos.

- Ora, conseguimos terminar a seqüência... – Lizzy falou com sua maior cara inocente.

- Claro... e essa seqüência terminou aonde? Na sua casa ou na dele? – Bel perguntou arqueando a sobrancelha e já esperando um ataque vindo da amiga.

- Na casa dele... – Lizzy respondeu marotamente.

Bel encarou a amiga por alguns instantes, como se acabasse de levar um tapa na cara. Esperava que a amiga começasse a se alterar e começasse a falar sobre seus princípios de não se envolver com pessoas que estejam trabalhando com ela e por ai seguiria. Mas não esperava... isso!

- Você .. han… se acertaram? – Bel perguntou ainda com uma expressão de choque nada disfarçada.

- Defina “se acertaram”. – Lizzy pediu fazendo um “cambrê”.

- Ele...ele... te tacou na cama e chamou de lençol? – Bel perguntou ainda abobada.

- Vamos dizer que foi um pouco ao contrário... – Lizzy falou sorrindo maliciosamente. Adorava implicar com a amiga.

Isabel ficou a encarando por alguns minutos e começou a rir escandalosamente, deixando Lizzy extremamente vermelha.

Caroline, reparando na aparência risonha de Isabel e Lizzy no canto oposto da sala, resolveu descobrir o que estava acontecendo. Algo que as tivesse deixado ao animadas com certeza não era algo que ela seguramente poderia chamar de proveitoso.

Colocou a maior pose de poder que pôde a caminhou determinada até as duas que riam.

- Estão tirando a minha concentração. Eu preciso de um silêncio mínimo para poder treinar. – disse cruzando os braços e arqueando as sobrancelhas.

- Realmente, Caroline, querida, você parecia muita concentrada enquanto conversava com suas servas, aliais, amigas, e olhava para cá. – Bel falou sorrindo debochadamente. – Agora, dê-nos licença, precisamos terminar nosso alongamento.

Bel se virou para Lizzy e revirou os olhos. Lizzy segurava o riso e ficou satisfeita ao ver Caroline voltar para o seu canto com uma expressão não muito amigável.

- Sabe o que descobri, minha cara amiga alienada Lizzy? – Bel perguntou olhando para Caroline de rabo de olho.

- Não, minha cara Sherlouca Holmes... o quê? – Lizzy perguntou entrando no espírito da brincadeira.

- Descobri que essa cobra coral falsa é louquinha pelo seu homem. – Bel respondeu rindo.

- Como assim? – Lizzy perguntou com uma vontade imensa de esganar aquela mocréia ruiva.

- Ela é irmã de Charles, o melhor amigo de Darcy. E, nas férias, quando ele passava na casa dos Bingley, ela ficava se oferecendo... – Bel comentou levantando-se a ajudando a amiga.

- E como você sabe disso? – Lizzy perguntou com um sobrancelha arqueada.

- Amor, eu não sei se você reparou, mas todas as meninas dessa academia, sem exceções, baba pelo seu homem. – Bel comentou divertida. – e você anda tão ocupada com a dança que nem repara...

- Ele não é meu homem...- Lizzy murmurou olhando a volta. – e eu não havia reparado mesmo... – admitiu encarando a amiga.

- E isso me lembra que temos que montar a sua escolta. – Bel pontuou andando até o banco e pegando sua garrafinha de água.

- Minha escolta? – Lizzy perguntou sem entender mais nada.

- É claro. Ou você acha que todas essas meninas com os hormônios em ebulição não vão querer te matar quando descobrir que o gostoso delas é na verdade o seu gostoso? – Bel perguntou sorrindo.

- Isabel... você está estranha hoje. Vamos nos alongar? – Lizzy perguntou voltando para o centro e começando a dar algumas piruetas.

O que Isabel dissera fazia sentido. Por mais que odiasse admitir, quando a academia inteira descobrisse que estava namorando o homem mais lindo que aparecera por ali em anos não teria mais paz.

Enquanto dançava para se aquecer, ficou remoendo o assunto e chegou a uma conclusão que lhe pareceu satisfatória. Iria esperar que toda agitação dos testes e da apresentação passasse para finalmente assumir o namoro.

Se Darcy realmente fosse tão assediado quanto parecia, teria realmente que ter muita paciência. Sempre fora muito paciente, mas ver seu namorado levando cantadas não era a situação mais agradável do mundo.

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- Srta Elizabeth Bennet.

Chamou um dos juizes de uma enorme bancada que contava com muitos professores de dança. Pelo que Lizzy pôde reparar, todos da área de dança estava convocados.

Um frio incômodo começou a subir por sua espinha e suas mãos tremiam levemente. Respirou fundo, tentando conter a ansiedade que embrulhava seu estômago e postou-se no centro da sala.

A sala era relativamente grande, feita com paredes exclusivamente de vidros, que permitia aos que passavam no corredor assistisse ao testes. Algumas pessoas comprimiam o rosto contra o vidro, lutando por um espaço para assistir aos testes.

Começando a ignorar todas as pessoas que a olhavam e os juizes que a encarava com expressões vazias de sentimentos, Lizzy imaginou-se em um lugar tranqüilo. Cheio de verde, onde pudesse sentir a grama macia sob seus pés, onde pudesse sentir a brisa acariciar-lhe o rosto e mantê-la embalada em um clima de harmonia.

http://www.youtube.com/watch?v=reAIwuc0Qeg&feature=related
(Game of love- Michelle Blanch)

domingo, janeiro 16, 2011

Capítulo XXII


Capítulo XXII

- Eu não agüento mais esperar! – Charlotte falou levantando-se de um salto da cadeira onde Richard a mantivera sentada pelos longos e suados...cinco minutos.

Desde que Lizzy fora trancada naquela espécie de camarin, Charlotte mostrava-se mais nervosa do que o normal, e mais parecia uma noiva no grande dia.

- Acalme-se, Charlotte, tenho certeza que Lizzy e o vestido estarão fantásticos. – Alicia tentou tranqüilizá-la de sua mesa improvisada enquanto olhava umas fotos que já haviam sido tiradas para o catálogo.

Sebastian apenas ria enquanto arrumava os equipamentos. Um silencia caiu sobre eles e Charlotte começou a sentir-se mais nervosa do que jamais imaginou que pudesse se sentir. A porta do quarto ao final do corredor se abriu revelando um Paulo cansado, mas com um sorriso vitorioso.

- Finalmente terminamos. – ele falou sendo seguido por Lílian. – Não foi fácil. Elizabeth tem umas curvas muito singulares. – explicou com um sorriso para Charlotte.

- O vestido ficou maravilhoso. Charlotte, meus parabéns! – Lílian falou dando passagem para Lizzy, que ainda mirava-se no espelho com um sorriso bobo, e ao ver que todas a olhavam, Lizzy corou e caminhou até a sala de fotografia.

- E ai? – ela perguntou estalando os dedos. – O que acharam. – ela perguntou olhando para baixo a admirando o vestido.

- Perfeita. – Alicia falou levantando-se e caminhando para perto de Lizzy.

- Venha. – Sebastian chamou já posto ao lado da câmera. – Vamos começar com umas fotos simples...

Sebastian começou a explicar tudo sobre a sessão que fariam e tentou tranqüilizar Lizzy quanto ao trabalho o máximo possível. Charlotte tranqüilizou-se aos poucos ao ver como a sessão evoluía e não pode retirar o sorriso enorme que estampava seu rosto.

Ao final do dia, logo ao terminar a sessão de fotos, ficaram conversando um pouco enquanto as fotos passavam para o computador. Como haviam ficado boas e já era tarde, Charlotte e Lizzy resolveram voltar para casa.

- Char, eu vou indo para o carro, tudo bem? – Lizzy perguntou depois de arrumar suas coisas e sentir uma forte dor de cabeça latejando dentro de sua cabeça, como se seu cérebro estivesse muito inchado.

- Tudo bem, Lizzy, eu já vou. – Char falou sorrindo e pegando suas coisas de cima da mesa .

- Vou acompanhá-la, Lizzy! – Alicia falou também pegando suas coisas e acenando para Sebastian.

Lizzy despediu-se de todos com um aceno e saiu em direção ao ar da noite. Charlotte virou-se para Sebastian na intenção de se despedir, mas levou um susto ao constatar que ele estava bem perto dela.

- Eu... acho... que eu vou para o carro. – Charlotte falou tentando desviar os olhos dos dele, mas não conseguiu.

- Fica mais um pouco. – ele pediu roçando seu nariz no dela, fazendo com que os pelos na nunca de Charlotte se arrepia-se.

- A Lizzy está me esperando. – Char murmurou tentando não cair na tentação e agarrar Sebastian.

- Ela está com Alicia. Não vai sentir a sua falta por muito tempo. – ele murmurou começando a depositar leves beijos no pescoço de Charlotte.

- Isso é tortura. – Charlotte murmurou arranhando levemente as costas de Sebastian e tremendo sob seu toque quente e sedutor.

Sebastian foi subindo os beijos até alcançar os lábios. Primeiramente foi um beijo calma e lento, cada um aproveitando o contato com o corpo do outro, e depois aprofundou-se, tomando um ritmo mais intenso

Charlotte foi separando-se lentamente, sentindo cada músculo, cadê célula de seu corpo reclamar com a quebra de contato. Ela abriu os olhos lentamente e sorriu.

- Eu tenho que ir agora. – e aproveitando o estado de semitorpor de Sebastian, pegou sua mesa e seguiu em direção a porta.

Janta comigo amanhã? – Sebastian perguntou encostado em sua mesa antes que Charlotte alcançasse a porta que estava entreaberta.

- Me pegue às oito. – ela respondeu antes de abrir a porta e ser engolida pela noite.

Charlotte caminhou até o carro com um enorme sorriso e quando entrou no lado do motorista encontrou Lizzy com a cabeça recostada no encosto de olhos cansados.

- Por que esse sorriso bobo não abandona seu rosto? – Lizzy perguntou abrindo os olhos e a encarando.

- Que sorriso? – Char tentou disfarçar enquanto girava a chave e ligava o carro.

- Esse que está estampado no seu rosto desde a entrada do estúdio. – Lizzy rebateu desencostando-se e ligando o rádio.

Uns acordes muito familiares começaram a tocar, e as duas trocaram olhares muito significativos.

http://www.youtube.com/watch?v=I9ERZTQQ0vM
( a música do rádio)

Terminaram de cantar e começaram a rir juntas enquanto Lizzy diminuía o som que começava a tocar uma nova música.

- Todas as mulheres do mundo deviam saber a letra dessa música. – Charlotte falou enquanto fazia a curva.

- Deviam mesmo... mas não pense que vai fugir, senhorita Lucas. Esse seu sorriso “ eu-tenho-trinte e dois –dentes-bem-branquinhos-e-brilahntes” tem que ter uma explicação.

- Ora Lizzy. Estou feliz pela sessão ter dado certo. E só. – falou sem olhar para a amiga e repentinamente ficando muito concentrada na direção.

- É claro que sim! – Lizzy falou irônica. – e o Darcy não beija bem... – completou encarando a amiga que corou ao ouvir o comentário de Lizzy.

- Deixe de ser debochada! Pelo seu ar de feliz ontem a noite me pareceu que ele beija muito bem! – Charlotte comentou maliciosa. – e que ele também faz outras coisas muitíssimo bem. – completou rindo.

- Mas isso não vem ao caso. – Lizzy replicou colocando os pés em cima do banco. – eu sei que bicho te mordeu, e sei que o nome dele começa com Sebastian e termina com Donavon.

- Eu não consigo esconder nada, não é? – Char perguntou derrotada e estacionando o carro quando chegaram ao prédio.

- Não, não pode. E agora você vai me contar tudo. – Lizzy praticamente ordenou enquanto chamava o elevador.

- Tudo bem! Eu estava pegando as minhas coisas... – e Charlotte começou a narraf todo o acontecido.

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Capítulo XXI


Capítulo XXI


Isabel conseguiu fugir da amiga enquanto se misturava a multidão que saía apressada, ansiando por um bom final de semana.

- O que é dela tá guardado!

Murmurou voltando a subir as escadas em direção ao andar da dança. Encontrou os corredores praticamente vazios, apenas uns professores conversavam enquanto saiam de suas salas carregando pastas que pareciam estar um pouco pesadas.

Lizzy entrou no vestiário feminino que se encontrava deserto. Apoiou sua bolsa em cima dos bancos e olhou-se no espelho. Estava um pouco corada devido ao tempo que passara sob o sol, e achou que a nova coloração lhe dava um ar mais saudável.

Sorriu lembrando-se de sua mãe e de quando passava uns dias em sua fazendo com os pais. A Sra Bennet sempre lhe dizia que o tempo maluco da cidade lhe deixava com um ar de doente e sempre insistia para que ela e Jane comecem mais quando a visitavam.

Lizzy soltou uma pequena risada e abriu a bolsa. Tirou algumas sapatilhas que estavam dentro de saquinhos de pano e apoiou ao seu lado. Já fazia um tempo que não utilizava aquela bolsa, e resolvera naquela manhã, não sabia o porquê, usar aquela bolsa.


- Eu não acredito que esse vestido estava aqui!

Disse em voz alta ao retirar um lindo vestido vermelho.

http://www.pasiontango.net/slike/tangofashion1.jpg
( vestindo vermelho)

Lizzy lembrou-se da primeira vez que o usara, que fora a primeira vez que dançava um tango. Estava muito nervosa no dia, mas acabou que a apresentação foi um sucesso.

O vestido era de um vermelho forte e um rasgo lateral subia até o meio das pernas. Nas costas, ele era cavado até o final das costas, com algumas tiras cortando no final e deixando metade das costas completamente nua. As alças eram delicadas e o tecido maleável, que balançava suavemente com o menor movimento.

- Acho que vou usar você hoje...

Lizzy falou fechando sua bolsa e procurando uma cabine vazia para trocar de roupa. Tirou o short jeans que usava e a regate e vestiu o vestido. Saiu da cabine e olhou-se no espelho com um sorriso. Sempre se achara muito bonita com ele.

- Não é que você ainda cabe, mesmo depois de quatro anos?

Comentou divertida e calçou as sapatilhas, indo em direção a sala para começar o novo ensaio com Darcy.

Quando entrou na sala, Darcy já a esperava encarando a rua por um dos imensos vitrais. A luz da Lua, se é que era possível, o deixava mais bonito ainda, e lhe dava uma aura de mistério completamente envolvente.

A luz de algumas estrelas que começavam a surgir no céu parecia refletir nos intensos olhos azuis. Uma mão descansava despreocupadamente sobre o parapeito enquanto a outra bagunçava displicentemente os cabelos.

- Boa noite, Lizzy!

Ele a cumprimentou sem se virar para olhá-la. Lizzy parou aonde estava e fitou a nuca de Darcy curiosa.

- Como sabia que eu estava chegando? – ela perguntou.

- Seu perfume de rosas. – ele respondeu finalmente se virando. – e eu a vi pelo vidro... – completou apontando para a janela.

- Eu deveria ter imaginado... – murmurou apoiando as coisas em um banco. – vamos começar? – perguntou se aproximando.

- Esse vestido... você nunca o usou. – Darcy deixou escapar enquanto olhava bobamente para Elizabeth.

Lizzy estava realmente deslumbrante com aquele vestido. A cor forte, vermelha, contrastava com a pele alva e o corte deixava suas curvas trabalhadas pela dança mais ressaltadas.

- Ele já é antigo... Achei-o sem querer. – explicou sorrindo.

- Deveria usá-lo mais vezes... – Darcy comentou se aproximando.

Lizzy apoiou levemente a mão sobre um dos ombros de Darcy e a outra encontrou sua mão. Darcy a puxou mais para perto, colando seu corpo ao dela.

A música começou e Lizzy sentiu Darcy pressionar sua cintura, começando a conduzi-la pela sala.

“ Isso só pode ser castigo...

Lizzy pensava enquanto sentia a mãe de Darcy deslizar sedutoramente e de uma forma muito insinuante enquanto a outra segurava-a firmemente nas costas, e como o vestido era aberto atrás, o contato de pele com pele era praticamente inevitável.

Para Darcy a situação também não era a das mais fáceis. Ele vinha se controlando noite após noite para não beijar Elizabeth como desejava fazer desde o baile da academia, e essa noite estava mais difícil do que poderia suportar. Era um verdadeiro atentado aos seus nervos. (N/a : e os das leitoras também, diga-se de passagem...)

Lizzy estava mais bonita do que se lembrara um dia tê-la visto. Não estava tão bem arrumada quanto no baile, é claro, mas o jeito frouxo com que prendia o coque fazendo alguns fios se soltaram, o vestido que contrastava com a pele clara, os lábios carmim que parecia cada vez mais sedutores e convidativos, a pele suave e o toque em seu corpo... Tudo colaborava para seu desejo aumentar cada vez mais.

Lizzy estava completamente hipnotizada e exasperava-se ao pensar que o motivo estava ali, bem na sua frente, sedutor como sempre, implorando para que ela beijasse aqueles lábios. Não, aquilo não estava certo! Ela não deveria se envolver com uma pessoa que estivesse trabalhando com ela! Não deveria. Mas se envolveu, e não havia mais nada que pudesse fazer para mudar isso.

E por que mudar? Ela não queria mudar. E não queria mais se importar com o que as pessoas falariam. Queria viver o que estava sentindo.

O que um simples tango reservava para duas pessoas completamente desavisadas sobre seus sentimentos...

Tango era isso: uma mistura de sentimentos, um misto de desejo proibido e paixão reprimida. Isso o fazia mais...não havia palavras para descrever.

Ambos estavam distraídos com seus pensamentos e guiavam-se ao som da música. Perfeita. A coreografia estava perfeita.

Os últimos acordes se dissiparam no ar e Darcy e Lizzy continuaram se encarando, ela perigosamente perto, ele perigosamente sedutor.

Darcy começou a andar, conduzindo Lizzy, mas dessa vez para uma dança sem música. Uma dança deles. Lizzy o acompanhou com movimentos rápidos.

Darcy sabia perfeitamente o que estava fazendo. Ele seguia os movimentos que seu corpo queria fazer, e se Lizzy o acompanhava era porque ela também o queria.

Giros, pernas, jogadas, “encontrões” e emoções guiaram essa dança livre. Darcy guiava, e Lizzy o acompanhava de uma maneira incomum, seus corpos pareciam se comunicar e tudo encaixava perfeitamente, como se fossem feitos em moldes criados para pertencerem um ao outro.

Uma última pose. A perna direita de Lizzy insinuantemente envolta nos quadris de Darcy, uma mão o arranhando nas costas levemente, a outra descansando sobre o peito.

Estavam próximos, a distancia era tão pequena que um curto movimento a anularia. Um simples passo anularia a distancia no que os separava.

Não podiam mais agüentar e resistir ao apelo de seus próprios corpos. Darcy encostou Lizzy de encontro à parede, a perna dela ainda em volta de sua cintura.

Ele aproximou-se mais, tentando acabar com a lei que diz que dois corpos não podiam ocupar o mesmo espaço. Moldou seu corpo perfeitamente ao dela. A mão direta deslizou pelo pescoço, traçando uma trilha de fogo até alcançar os cabelos e soltá-los, fazendo-os cair em cascata.

Lizzy enterrou suas duas mãos nos cabelos de Darcy e o puxou para perto, e ele, aproveitando a aproximação, tomou-lhe os lábios. Amor, paixão, carinho.

As línguas dançavam em perfeita sincronia, proporcionando um turbilhão de sentimentos incontroláveis, que começavam com um frio na espinha e tornavam-se um calor repentino que se apossava de seus corpos.

Fizeram o que seus corpos mandavam, mas agora já não era mais suficiente.

Queriam se provar, tocar, descobrir cada pedacinho do corpo um do outro, memorizar para nunca mais esquecer. As mãos de Darcy passeavam livremente pela cintura de Lizzy, que acariciava a nuca e as costas de Darcy.

Separam-se. Olharam-se nos olhos.

- Me leva para casa...- Lizzy pediu o encarando nos olhos e sorrindo... aquela seria uma longa noite....