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segunda-feira, setembro 27, 2010

No Caminho da Dança, cap. I

No Caminho da Dança - Capítulo I Escrito por Amanda


Uma grande sala com enormes espelhos cobrindo todas as paredes, e pequenas barras de madeira como se fossem contínuos roda-meios. . Um chão de madeira perfeitamente polida e brilhante com apenas alguns pontos mais foscos que encontravam-se cobertos de breu*.

Um magnífico piano de calda encontrava-se no canto da sala, bem próximo a uma das janelas, onde uma senhora baixinha e atarracada tocava. A professora Márcia andava pelas alunas que faziam os exercícios na barra com tanta perfeição, que poucas vezes encontrava o que corrigir.

As vinte meninas em fila na barra sorriam, movimentavam-se com suavidade e em perfeita sincronia. Usavam colant preto, meia calça branca e uma saia que algumas dispensavam. Os cabelos bem presos em um coque.

Mais parecia que se movimentavam com a brisa suave que vinha da imponente janela de vidro. Faziam seus exercícios ao som de “Andante in F major”, de Mozart.

As sapatilhas de ponta rosa brilhavam quando alguns raios de Sol iluminavam seu cetim. Alguns já gastos pela freqüência que eram usados, outros novos em folha.

- Muito bom, meninas! Vamos encerrar a série com um arabesque** na quinta posição.

A senhora que tocava parou e as meninas subiram na ponta fazendo o arabesque. A professora olhou todas, algumas vezes levantando um pouco mais a perna.

- Muito bom. Podem descansar.

Todas desceram da ponta e fizeram uma reverência***. Algumas começaram a conversar e outras apenas se dirigiram para os bancos confortáveis no canto da sala. Sentaram-se nos bancos ou no chão enquanto conversavam e desamarravam as fitas de cetim que lhes amarrava os tornozelos.

Tirar as sapatilhas mais parecia um ritual. Todas desamarravam as fitas e retiravam os elásticos que as mantinha presa ao pé. Algumas meninas usavam ponteiras**** outras não. Jogavam um pouco de talco para evitar que o suor estragasse as sapatilhas e as guardavam cuidadosamente em suas bolsas. Enrolavam as meias que possuíam as pontas cortadas até ao joelho, despediam-se da professora e iam , ou para casa, ou para outras aulas no grande instituto de artes Artes institute.

Artes Instutute era a academia de artes mais conceituada de Londres. Vários estudantes de todas as partes do mundo desejam ter uma vaga nesta academia. Era muito cara, apenas uma parte da população poderia estudar nela, se não fosse as bolsas que a escola dava anualmente para cinqüenta alunos de cada matéria.

Lá se podia estudar dança, música, escultura, pintura, teatro.

Elizabeth Bennet, uma das bolsistas que conquistara o direito de estudar lá com horas e horas de treino, saia para os grandes corredores depois de sua aula de ballet a procura da irmã, que também era bolsista, só que em pinturas.

Dirigiu-se para o andar de seu armário e guardou suas coisas. As aulas do dia havia acabado. Varias pessoas passavam por ela e a cumprimentavam. Lizzy era muito querida por todos os professores e alunos. Bem, ou quase todos. O professor de expressão na dança, Lizzy tinha certeza, a perseguia. Sempre achava que suas expressões corporais não estavam boas o bastante. Mas isso não importava.

Quando terminou de dar uma pequena arrumação em seu armário avistou Jane vindo em sua direção, carregando sua maleta com tintas. Seus longos e belos cabelos loiros estavam presos no alto da cabeça em um coque desarrumado. Seus lindos olhos azuis brilhavam. Usava um lindo vestido azul que não podia ser visto, pois estava coberto por um grande avental branco completamente manchado de tintas nas mais diversas cores.

- Jane, o que fizeram com você?

Lizzy perguntou enquanto ria. Jane estava com pingos de tinta por quase todo o rosto.

- Eu sei que estou suja. Mas entrou uma garota nova na nossa turma de pintura em vasos e ela não soube usar o misturador de tintas. A tinta espirrou para todos os lados, e eu que estava atrás dela acabei levando a maior dose. Mas não foi sua culpa.

Lizzy apenas riu e fechou o armário. Jane guardou suas coisas em seu armário, que era ao lado do de Lizzy, e as duas seguiram juntas para o pequeno apartamento que dividiam com mais duas amigas.

Lizzy permitiu que Jane entrasse no banho primeiro. Charlotte e Luciene , suas companheiras de apartamento, ainda estavam no trabalho. Trabalhavam juntas como estilistas em uma loja no centro.

Começou a preparar o almoço. Elas logo chegariam em casa e estava morrendo de fome. Preparou uma macarronada para todas e foi tomar banho.

Era segunda feira e ainda tinha uma longa semana pela frente.

A tarde daria aulas de ballet em uma comunidade carente e não podia chegar atrasada. Lizzy adorava ver o sorriso e os brilhos nos olhos de cada criança sempre que adentrava a precária sala em que dava aula.

- Tia Lizzy, o que vamos aprender hoje?

Perguntavam sempre que a viam chegar. Dava duas aulas. Uma para crianças pequenas e outras para adolescentes. O dinheiro que ganhava era pouco, pois só era paga pelas aulas dadas aos adolescentes.

Dava aulas para as crianças pequenas porque gostava. Em seu primeiro dia como professora, enquanto dava a aula percebeu que algumas meninas espiavam pela janela e ao final da aula foi falar com elas.

- Vocês também fazem aula?

Lizzy perguntou sorrindo. A menina que parecia ser a mais velha balançou a cabeça e respondeu com uma voz tristonha.

- Somos muito pobres. Não temos como pagar.

No mesmo dia, Lizzy foi até a proprietária da sala e perguntou se não poderia usar a sala para mais uma aula. A dona, uma senhora ranzinza e mal educada sorriu com desdém e só aceitou alugar a sala para Lizzy. Mesmo assim ela não desistiu. Paga o aluguel com parte do salário que recebe com a aula das meninas mais velhas.



segundas quando descia do ônibus e entrava na sala.


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Breu - é um pó que as bailarinas botas na ponta e na sola da sapatilha para evitar que escorreguem quando estiverem dançando.

Arabesque – Um passo de ballet. Uma perna esticada atrás do corpo. A outra perna, pode estar esticada ou não. Os ombros e os quadris devem estar virados para frente.

Reverência – Sempre que as aulas de ballet acabam, as bailarinas fazem uma pequena reverência como sinal de graciosidade.

Ponteiras – São de esponja ou de silicone. Você coloca na ponta dos pés antes de botar a sapatilha. Evita que o pé fique tão machucado pela ponta.

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